na escolha profissional
A escolha da carreira é uma das fases em que buscamos um sentido para a vida, onde nossos sonhos, valores e talentos se juntam e apontam uma direção a seguir.
Mas nem sempre esse caminho é tão claro. Para muitos jovens, que percebem esta como sendo a primeira grande decisão da vida, ele às vezes gera angústia, medo, ansiedade.
Afinal, não é para menos, o mundo tem se tornado mais complexo, veloz e incerto, influenciado por forças que nos afetam em todas as dimensões da vida. Dentre elas, o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, que trouxe o fim das distâncias e hiperconectou tudo e todos em grandes redes digitais.
Para quem está em busca de descobrir sua vocação e o espaço que ocupará no mundo do trabalho, esse cenário tem se mostrado muito fértil, com contornos de liberdade, inovação e flexibilização. Por outro lado, seu alto grau de imprevisibilidade e complexidade tem sido um desafio para os jovens.
Eles não apenas precisam decidir por uma área de atuação, num universo infinito de possibilidades e que se renova constantemente, como também têm escolhas secundárias como o tipo de plataforma de ensino mais adequada, quantos idiomas estudar, que fronteiras cruzar para garantir o sucesso e a empregabilidade.

Muitos sentimentos e emoções também marcam os conflitos na busca de sua identidade vocacional, como o medo de errar na escolha do curso e não serem bem sucedidos; a cobrança e a necessidade de aprovação dos pais, que muitas vezes desejam que o jovem continue os negócios da família ou que seja o realizador de seus sonhos; a ansiedade proveniente de uma visão de futuro incerto, a responsabilidade de decidir por algo que trará um grande impacto futuramente; a necessidade de escolher um curso, sabendo que ao fazerem isso, também estarão abdicando de outros de seu interesse.
Esta crise vocacional acontece concomitantemente à busca da identidade pessoal, a definição e experimentação dos papeis sexual e social e será mais ou menos angustiante dependendo de como o jovem elabora essas questões. Em geral, o que percebo é que a grande maioria ainda não desenvolveu habilidades para lidar com a complexidade que representam todas essas variáveis.
A pressão e os conflitos originários nessa fase mobilizam intensa carga emocional e afetam a autoestima, a motivação, a autoconfiança e principalmente a capacidade de perceberem suas verdadeiras preferências e talentos.
Muitos acabam decidindo impulsivamente, usando estratégias de tentativa e erro, que mais tarde se configuram como decisões equivocadas na carreira. Não raro, vejo decisões pautadas apenas em referenciais externos, tais como os cursos superiores em destaque, as profissões de maior status e melhor remuneração, a preferencia dos amigos ou o desejo dos pais. Com pouca reflexão acerca de seu mundo interno e da influência deste na realização das atividades às quais pretendem dedicar-se.
Às vezes, só vão se dar conta que estão no lugar errado, fazendo o que não gostam, anos depois, após desperdiçar tempo, dinheiro e sentirem-se muito frustrados.
Percebo que essas questões são causadas não só pela dificuldade em transitarem na complexidade do mundo contemporâneo, mas, sobretudo pelo desconhecimento de si e pelo fato de ainda estarem desenvolvendo habilidades para conectarem e administrarem suas próprias emoções.
Sabemos que as emoções exercem um papel ativo e de grande peso na vida dos jovens. Elas estão em constante troca de impressões com o pensar e dão significado ao que vivem, apontam necessidades e direcionam suas escolhas pessoais e profissionais. Portanto, elas podem ajudar ou atrapalhar os jovens a encontrar suas aptidões, dependendo de como são percebidas, nomeadas, controladas e compreendidas.
Emoções não trabalhadas podem acarretar alto nível de estresse, dificuldades para estudar, para relacionar-se e tomar decisões. Quando muito intensas e persistentes podem desencadear sintomas de depressão, transtornos alimentares, crises de ansiedade, etc.
Mas a boa notícia é que muitas coisas podem contribuir para que os jovens lidem melhor com suas angústias e conflitos, acessem seus potenciais e façam escolhas profissionais mais autênticas. Começando com o esforço para tornarem-se mais conscientes das emoções que os afetam.
Esta consciência vem ao ampliarem o autoconhecimento e ganharem mais clareza quanto as necessidades que estão movendo-os em direção a cada profissão de interesse.
Estabelecer visões de futuro mais positivas, conectadas com seus valores, vocação, propósito e fortalecer a autoconfiança também é essencial.
A impaciência e a impulsividade, tão marcantes nesta geração, podem ser minimizadas com a inserção de exercícios físicos e práticas de meditação, excelentes coadjuvantes para vencer a ansiedade e a angústia.
Estimular os jovens a fazer pesquisas mais detalhadas e consistentes com profissionais e empresas dos segmentos de interesse também será útil para “aterrissarem” expectativas de carreira muito descoladas da realidade e aprenderem a lidar com suas frustrações.
Destaco também que é muito importante os pais não delegarem totalmente à escola o papel de orientação, atuando principalmente em três grandes frentes:
1) Facilitando o autoconhecimento, mantendo-se atentos e abertos aos anseios dos jovens.
2) Acolhendo-os em seus momentos de dúvida, oferecendo uma escuta ativa e um aconselhamento imparcial
3) Ajudando-os a refletir como seus talentos e interesses podem ser úteis no mundo atual.
Concluindo, a escolha profissional é fruto de uma construção de longo prazo e exige reflexão e conexão dos jovens consigo mesmos. Investir tempo e energia nesse processo é essencial e, embora represente um desafio, pode ser prazeroso e surpreendente.
Mas, para que isso aconteça, é necessário que os jovens ampliem seu autoconhecimento e compreendam a natureza de suas emoções, resignifiquem interpretações negativas e adquiram as habilidades necessárias para que elas sejam fontes geradoras de equilíbrio e de boas decisões.
A escolha da carreira é uma das fases em que buscamos um sentido para a vida, mas nem sempre esse caminho é tão claro e pode gerar muita ansiedade.